E então, cenas. Nada de muito se passava, nada de demasiado também, mas os nossos amigos continuavam a sua jornada. A meta tornara-se difusa. Seria esta apenas uma viagem de enriquecimento espiritual e/ou físico? Procurariam o responsável pela morte de Shigusi? Ainda estavam zangados com Krantz? Seria este um bom ano para as vindimas?
Já ninguém sabia ao certo as respostas, sabia-se apenas que o Gajo estava acelerado depressa quase a ficar biruta, talvez fosse a pressão de ser fixe. Rokiloy, por sua vez, devorava cenouras habilmente, enquanto que o Narrador desejava secretamente abandonar a viagem. Cheirava a ruptura.
- Já lutamos que fode. Lutamos e lutamos e depois lutamos mais. É esta a nossa vida? É isto que devemos ser? É isto que devemos fazer?
- "Há duas tragédias na vida: uma a de não satisfazermos os nossos desejos, a outra a de os satisfazermos."
- ?
- Oscar Wilde disse uma vez isto. Querias estar em casa a ver o House?
Dito isto, o Gajo acende um charro de menta e deita-se no chão, acariciando o próprio pulso.
- O House? Por quem me tomas? Queria estar em casa, perto dos meus. Tenho uma garota lá na aldeia, sabem? Não sou um falhado como vocês.
- Uma garota...uma garota. Pois bem, eu tenho várias com vários ovários a circular por onde quer que eu entre. Onde vou, as fêmeas revelam-se.
- Alguém quer uma cenoura?
- Agora não, Roki. Eu e o Gajo estamos a ter uma discussão importante.
- Importante, permanente e eterna. Tudo que quiseres ou não quiseres.
- 'Tás a ver? Estou farto desse teu palavreado inútil e pseudo-místico. Achas que as palavras nos vão salvar perante as nossas próximas adversidades?
E mal pronunciou essas palavras, surgiu das profundezas da terra, uma criatura bem específica que lhes bloqueia a passagem. Sofria de olhos feitos de candeeiros usados e o resto do corpo era bem normal, segundo os padrões terráqueos. Era a sua cara que se mostrava para além do vulgar. Não só tinha olhos como mencionei há umas linhas atrás, como também possuiá uma boca que se assemelhava a uma cereja ENORME, sempre aberta. Era pálido também e etcetera. O tipo de alguém que raramente se veria num super-mercado.
- Olá filhos da puta. Como vai essa vida? Eu dou-me com os bonitos e os desajeitados. Há alturas em que me dou com esses dois tipos de pessoa. Quem sou eu?
Os 3 amigos ficaram atónitos perante a desenvoltura vocal desta nova personagem e também com a similaridade que tinha com o Gajo nesta sua maneira de falar. A sua frase pareceu um desafio, um enigma, algo a solucionar. O Narrador, pensando ser sempre mais esperto que as próprias pernas, lança:
- Olá. Tudo bem? Deixa-nos passar oh maior. Não queremos chatices.
- Eu dou-me com os bonitos e os desajeitados. Há alturas em que me dou com esses dois tipos de pessoa. Quem sou eu?
- Hum - diz Rokiloy - Queres cenouras?
A figura pálida não se ri nem se mexe. Tinha criado certamente a charada mais difícil de todos os tempos. Uma Esfinge Moderna sem dúvida, com boca de cereja, como já foi dito.O Gajo levanta-se do chão fofo e confronta o mauzão.
- Com que então os bonitos e os desajeitados, não é? E dás-te com esses dois tipos de pessoa, certo?
- Sim.
- Os bonitos?
- Certo.
- E os desajeitados?
- Nem mais.
- Já sei. És o lendário Kona-Basta.
De repente, os olhos de candeeiro desta personagem simplesmente estouraram, revelando por sua vez caranguejos de cristal que por sua vez também explodiram, gritando e libertando-se em mini pedacinhos, estatelando-se como nuvens de algodão pela areia quente que povoava o chão. O grande Kona-Basta cai por terra, esguichando sangue e sangue pelos buracos onde anteriormente tinha candeeiros usados em vez de olhos. O caminho estava livre.
Os dois amigos mais inúteis olham para o Gajo com um sorriso lindo, de agradecimento e ternura. Ao passarem pelo vilão indefeso, o Gajo saca da sua EastFaca espacial e desfere-lhe profundamente um golpe mortal que lhe corta a cabeça. Ambos os amigos mais um chapinham por poças de sangue.
- Gajo, quem era este misterioso Kona-Basta?
O Gajo acende um fósforo na sua coxa direita para consumir o vício do fogo e exclama:
- Este...era o primo de Krantz.
Em seguida, esfaqueia um veado que bebia àgua perto deles.
- Qualquer dia faço carreira do Mal.
sexta-feira, 11 de maio de 2012
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