quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Prado De Cimento

- Sabem, gostava de sentir paz dentro de mim pelo menos uma vez.

- Não a sentes quando fritas frango?

- Sinto, mas é como...é como se estivesse corrompida...

- Paz corrompida? Não sejam paneleiros! Só sentimos paz quando eliminamos os nossos inimigos, só temos inimigos quando discutimos, só discutimos quando nos sentimos mal connosco.

- Afinal onde queres chegar?

O Gajo manda uma baforada secreta na sua cigarrilha cor de rosa e exclama:

- Não há possibilidade de paz quando o ódio está no nosso sangue...

- Não sejas tão negativo, existem flores, existem bebés bonitos!

- Existem cães que destroem flores, existem piadas sobre bebés mortos!

- Existem cães mortos?

- Também! Aceitem o ódio. Aceitem o ódio dentro de vocês e um dia poderão ter tanto estilo e noção plena da existência como eu.

Rokiloy e o Narrador ficaram fascinados com a convicção do Gajo em todo o seu discurso.
O Gajo era definitivamente o gajo mais cool do universo planetário e as suas palavras entravam nos corpos dos seus amigos como facas de sabedoria rígida, espectaculares.

- É noite. Acampemos.

- Gajo, não é melhor ir para um hotel? Ainda tenho o dinheiro que sobrou das rifas...

- Não. Isso é exactamente o que eles querem que façamos. O Krantz não actua sozinho, centenas de esbirros dele poderão estar a ouvir esta mesma conversa. Tudo é perigoso. Tudo é absoluto e sonhador. A lua aquece, o sol rebenta.

O Gajo parecia cada vez mais nervoso nas suas divagações, a sua segurança era ameaçada com a certeza da maldade que subia do centro do mundo para qualquer local onde estivessem.

- Faremos um fogo! Sim, pessoal? O fogo afasta os maus espíritos! Podemos jogar às cartas também!

- Shh, Roki! Não vês que o Gajo está introspectivo e misterioso? Se ele quiser que façamos algo ele pede-nos, não é assim Gajo?

- É isso mesmo. Roki, faz uma fogueira. Há antigas lendas que dizem que afasta os maus espíritos.

E assim os 3 amigos, muito diferentes entre si, construíram uma bela fogueira sobre o prado do cimento que pisavam. Não falaram de sentimentos, não jogaram às cartas. Sentaram-se em silêncio, simplesmente à espera de demonstrações activas do mundo cruel. Havia medo e pânico. Contido. E olhares secretos.

ATÉ QUE...

- Buenas tardes chicos! Me puedo calientar con ustedes?

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