domingo, 17 de junho de 2012

(há bastos anos atrás)


- K.B.! Ao tempo que já não te via! Como andas?

- Com os pés. Não vês? És um otário oh Krantz. Duvido que te tornes num génio do mal com essa atitude hiper-positiva.

- Deixa-me sorrir Kapa! Eu sou tudo o que sou e sinto-me enorme! Só preciso de mim e da minha musa-donzela.

- Ai é? Vão assim tão bem as coisas com a Felicia?

- Vão óptimas. Estás a ver este anel? Vamos casar! Meu, estou mesmo apaixonado. É ela.

- Estou muito feliz por ti. Estou também a ser sarcástico. Ou seja, não estou feliz por ti. Sabes bem que sou deformado e nenhuma garota olharia para mim com desejo. Gostas de me torturar?

- Kapa! Acalma-te! Então e as coisas não resultaram com aquela moça invisual?

- Não, fartei-me dela. Além disso tinha cara de veado.

- És um frustrado amargurado. Por isso é que estás sempre a falar dessas maluquices do crime e fazer o MAL. Lol, rapaz.

- Sabes bem que não quero ser um génio do mal sozinho. Preciso de ti no topo da árvore da Maldade.

- Bem, esquece. Somos primos e amigos, mas sermos malvados juntos é algo que não me parece adequado. A Felicia não ia gostar, de certeza. Ela é toda paz e amor e benevolente, não posso ser anti-Felicia, entendes? Nem quero.

- Muito bem. Não queria que chegasse a este ponto mas vejo que não me dás outra escolha. Reconheces isto?

Nesse momento, K.B. retira da mochila um coração que sangrava velozmente e atira-o para as mãos de Krantz.

- Hum, pelo que vejo é um coração...

- Observa melhor.

- Hum....OH MEU DEUS! É O CORAÇÃO DE FELICIA, A MINHA AMADA! RECONHEÇO-O À CONTA DO PIERCING AZUL TURQUESA IMPRESSO NO CENTRO!

- Eheh. Sim. Matei a tua puta.

- Tu...tu...

- Fiz o que tinha a fazer.

Subitamente Krantz liberta uma gargalhada infame e revela:

- E fizestes tu muito bem! Eh eh! Ainda bem que mataste a vaca.

- Quer dizer que...

- Sim! Isto foi um teste! Realmente és malvado e pérfido como eu queria que fosses. Vamos dominar o mundo juntos. Vamos ser implacáveis.

- Ah grande Krantz! Enganastes-me durante uns tempos! Continuas a mesma víbora!

- Sim. Já agora...

- Diz.

- Matei a tua mãe.

E proferida esta revelação macabra os dois primos amigos abandonam o sítio onde estavam e alternam mentalmente planos diabólicos com hipotéticas partidas de ténis.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Röki bate mal e põe-se no caralho

- A erva estava boa. A água estava uma merda. A cabeça decepada do veado ainda me aborrece. Ele está a olhar para mim, não está?

E eis que a cabeça do veado começa a falar.

- Parabéns, ganhastes! Descobristes que eu estava a observar-te.

- Um veado! Que fala!

- Röki, como eu adoro a tua inocência pueril. Consegues focar-te no veado falante, quando na verdade é apenas a cabeça que fala. Está na cara que é um parasita transmorfo, que come as cabeças das presas e insere-se nos seus corpos, adquirindo a sua forma e identidade.

Nisto, o Rökiloy passa-se dos cornos.

- Estou farto da tua mania de seres mais que os outros! O Gajo é assim mas ele é o maior. Tu és um lixo de pessoa. É essa tua personalidade insolente, de caranguejo.

- Ha ha ha, Röki que ladra não morde!

- Cão! Mordo, e bem! Nem queiras saber! Mas antes que o faça e que te desfaça, vou aprender mais. Vou aprender mais, e vou utilizar a minha sabedoria para maximizar as minhas capacidades do freestyle mindfuck.

- Röki, não!

E o Rökiloy pôs-se nas putas, em direcção ao horizonte, de árvore em árvore, como o macaco azul lhe ensinou.
Entretanto, o parasita transmorfo já se estava a passar dos cornos por causa da falta de atenção que lhe estavam a dar.

- Agradecia que me dessem um bocado de atenção aqui, pode ser? Sinto-me só.

Sem considerar o pedido, O Gajo atira uma faca que atinge o parasita mesmo na bochecha, sacando-lhe um olho fora.

- Foste o motivo pelo qual o Röki nos abandonou de forma tão temporária! Morre, animal!

O Narrador tentou acalmar o gajo tocando-lhe no ombro, mas O Gajo enxotou-me, ou sacudiu o pó da terra húmida que tinha no casaco, não percebi. De qualquer das formas, eu e o Gajo não falamos mais até ao retorno do Röki. Foi um pacto sem palavras, mas ambos percebemos que teríamos que respeitar o espaço um do outro, e sendo assim, decidimos não partilhar a casa da árvore.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Emoção & Adivinhas

E então, cenas. Nada de muito se passava, nada de demasiado também, mas os nossos amigos continuavam a sua jornada. A meta tornara-se difusa. Seria esta apenas uma viagem de enriquecimento espiritual e/ou físico? Procurariam o responsável pela morte de Shigusi? Ainda estavam zangados com Krantz? Seria este um bom ano para as vindimas?

Já ninguém sabia ao certo as respostas, sabia-se apenas que o Gajo estava acelerado depressa quase a ficar biruta, talvez fosse a pressão de ser fixe. Rokiloy, por sua vez, devorava cenouras habilmente, enquanto que o Narrador desejava secretamente abandonar a viagem. Cheirava a ruptura.

- Já lutamos que fode. Lutamos e lutamos e depois lutamos mais. É esta a nossa vida? É isto que devemos ser? É isto que devemos fazer?

- "Há duas tragédias na vida: uma a de não satisfazermos os nossos desejos, a outra a de os satisfazermos."

- ?

- Oscar Wilde disse uma vez isto. Querias estar em casa a ver o House?

Dito isto, o Gajo acende um charro de menta e deita-se no chão, acariciando o próprio pulso.

- O House? Por quem me tomas? Queria estar em casa, perto dos meus. Tenho uma garota lá na aldeia, sabem? Não sou um falhado como vocês.

- Uma garota...uma garota. Pois bem, eu tenho várias com vários ovários a circular por onde quer que eu entre. Onde vou, as fêmeas revelam-se.

- Alguém quer uma cenoura?

- Agora não, Roki. Eu e o Gajo estamos a ter uma discussão importante.

- Importante, permanente e eterna. Tudo que quiseres ou não quiseres.

- 'Tás a ver? Estou farto desse teu palavreado inútil e pseudo-místico. Achas que as palavras nos vão salvar perante as nossas próximas adversidades?

E mal pronunciou essas palavras, surgiu das profundezas da terra, uma criatura bem específica que lhes bloqueia a passagem. Sofria de olhos feitos de candeeiros usados e o resto do corpo era bem normal, segundo os padrões terráqueos. Era a sua cara que se mostrava para além do vulgar. Não só tinha olhos como mencionei há umas linhas atrás, como também possuiá uma boca que se assemelhava a uma cereja ENORME, sempre aberta. Era pálido também e etcetera. O tipo de alguém que raramente se veria num super-mercado.

- Olá filhos da puta. Como vai essa vida? Eu dou-me com os bonitos e os desajeitados. Há alturas em que me dou com esses dois tipos de pessoa. Quem sou eu?

Os 3 amigos ficaram atónitos perante a desenvoltura vocal desta nova personagem e também com a similaridade que tinha com o Gajo nesta sua maneira de falar. A sua frase pareceu um desafio, um enigma, algo a solucionar. O Narrador, pensando ser sempre mais esperto que as próprias pernas, lança:

- Olá. Tudo bem? Deixa-nos passar oh maior. Não queremos chatices.

- Eu dou-me com os bonitos e os desajeitados. Há alturas em que me dou com esses dois tipos de pessoa. Quem sou eu?

- Hum - diz Rokiloy - Queres cenouras?

A figura pálida não se ri nem se mexe. Tinha criado certamente a charada mais difícil de todos os tempos. Uma Esfinge Moderna sem dúvida, com boca de cereja, como já foi dito.O Gajo levanta-se do chão fofo e confronta o mauzão.

- Com que então os bonitos e os desajeitados, não é? E dás-te com esses dois tipos de pessoa, certo?

- Sim.

- Os bonitos?

- Certo.

- E os desajeitados?

- Nem mais.

- Já sei. És o lendário Kona-Basta.

De repente, os olhos de candeeiro desta personagem simplesmente estouraram, revelando por sua vez caranguejos de cristal que por sua vez também explodiram, gritando e libertando-se em mini pedacinhos, estatelando-se como nuvens de algodão pela areia quente que povoava o chão. O grande Kona-Basta cai por terra, esguichando sangue e sangue pelos buracos onde anteriormente tinha candeeiros usados em vez de olhos. O caminho estava livre.

Os dois amigos mais inúteis olham para o Gajo com um sorriso lindo, de agradecimento e ternura. Ao passarem pelo vilão indefeso, o Gajo saca da sua EastFaca espacial e desfere-lhe profundamente um golpe mortal que lhe corta a cabeça. Ambos os amigos mais um chapinham por poças de sangue.

- Gajo, quem era este misterioso Kona-Basta?

O Gajo acende um fósforo na sua coxa direita para consumir o vício do fogo e exclama:

- Este...era o primo de Krantz.

Em seguida, esfaqueia um veado que bebia àgua perto deles.

- Qualquer dia faço carreira do Mal.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Quem Caralho é o Sergei?

E sem mais avisos, o grande Sergei cai para o lado esquerdo, cuspindo imediatamente uma imensa poça de sangue.

- Acho que ele morreu.

- Tens a certeza, Gajo?

- Ya, hoje em dia os cancros são eficazes e letais. Como um hamburguer mal passado coberto de arame farpado.

O Gajo era mesmo bom com palavras. Mergulhou os amigos num clima tenso e soturno, apropriado à ocasião. O funeral deu-se na hora seguinte, vieram todos os amigos e ex-namoradas do magnífico Sergei para lhe prestarem uma última homenagem. O sol ia alto, o coveiro estava particularmente atraente, a igreja mandava badaladas, umas a seguir às outras. Foi assim o fim de Sergei, o Manipulador.