quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

A Filosofia do Parkour

Vejo o teste nas minhas mãos e quase que dou um grito histérico pela facilidade extra-fácil que aquele pedaço de papel provocava em mim. Finalizei-o em meros centésimos de segundos e fiquei a olhar para os meus colegas enquanto eles liam lentamente as perguntas. Tive quase uma vontade impressionante de lhes solucionar os testes, mas contive-me. Não consigo explicar porquê, mas senti que não podia nem devia desperdiçar as minhas novas capacidades cognitivas.

Olhei para a janela em breves instâncias de aborrecimento e qual não é o meu espanto quando vejo o jovem Rökiloy a tentar trepar muros e a fazer acrobacias que no meu entender, apenas podia qualificar como maradas. Achei curiosa toda aquela simulação de macaco e decidi então ir ter com ele.

- Professora! - exclamei eu - Acabei o teste. Posso ir lá fora brincar com o meu amigo?

- Ah ah. Que engraçado. Até parece que já acabaste... ainda nem tiveste tempo de começar!

- Já está acabado sim, e sinceramente achei-o muito fácil...

- INSOLENTE! COMO TE ATREVES A MENOSPREZAR O MEU TRABALHO?

- Eu não estava a menosprezar o seu trabalho. Apenas acho que até o meu avô era capaz de solucionar estas questões. E ele morreu há duas semanas.

- FILHO DE UMA GRANDE PUTA! QUERES IR TER COM O TEU AMIGO? ENTÃO VAI! VAI E NÃO ME CHATEIES! ESTÁS A PERTURBAR A AULA, SEU NABO! HÁ PESSOAS AQUI QUE QUEREM FAZER UM TESTE! QUERO SILÊNCIO ABSOLUTO! ABSOLUTO, PERCEBES?

Nisto, levantei-me, deixei o papel na secretária, e fitando a professora furiosamente nos olhos, entrego-lhe um sorriso perto da perfeição.

Rökiloy estava especialmente espirituoso nos seus jogos. Decido dialogar com ele.

- Röki, amigalhaço. Que malabarismos corporais são esses que empregas no estático cimento?

- Hey! É Parkour, meu! A técnica de dominar o chão e as cenas à volta!

- Hum. Sinceramente estive a observar-te há bocado e sinto que te falta técnica nos teus saltos. Por outras palavras- penteei sensualmente o cabelo e acrescentei -Falta fogo ao teu artifício.

- E que devo fazer quanto a isso?

- Fácil! Deves desenvolver a Filosofia do Parkour! E eu vou ajudar-te!

- Mas tu não percebes nada disto!

- Enganaste. Eu percebo tudo... de tudo!

E assim, ouvindo no meu mp3 a fabulosa composição Of Skulls And Graveyard Fucking Part III
e elaborando uma dança danada, comecei a recitar os princípios obrigatórios do Parkour, as directrizes absolutas para uma revolução eficaz.

1: Não saltes apenas, torna-te no salto!
2: Arrisca!
3: Trepa as paredes, não tenhas medo de trepar!
4: Sobe até ao infinito!
5: Nem que partas os dentes!

Depois de estabelecer essas belas linhas de sabedoria, entreguei a Rökiloy um manuscrito de 700 páginas que redigi em 3 minutos sobre a Filosofia e a Psicologia do Parkour, que continha todas as regras absolutas para um Parkour com esplendor, dinâmico e explosivo.

Durante meses, recitei partes do livro aos meus amigos que sorriam satisfeitos perante o meu conhecimento de uma arte ainda tão inexperiente na nossa cultura.

Fui para o café, misturar-me com a plebe. Sim, porque embora agora eu fosse extremamente inteligente, era inegável o gosto exremo que ainda mantinha por coca-cola fresca.

Sem comentários: